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Futebol & Eficiência

Análise de eficiência do investimento

Brasileiro não gosta de esporte, brasileiro gosta de ganhar! Chego a essa conclusão, mesmo que sem um estudo profundo, após observar o esporte brasileiro nos últimos 18 anos. Entretanto, brasileiro acompanha Champions League, Premier League, La Liga e outros eventos futebolísticos que fazem a beleza do futebol europeu e mundial, e que de certa forma, resgatou o nosso futebol arte.

Mas aqui só vale o título, qualquer outra coisa se torna mera perda de tempo ou ainda motivo de chacota. A cada ano, 20 clubes iniciam a disputa pelo título do Brasileirão mas somente um vai vencer. Isso também é verdade na Europa, e mesmo essa realidade sendo incontornável, os europeus vão ao estádio e torcem pelos seus times. Os clubes europeus criaram essa demanda, igualando a visão de Steve Jobs: “As pessoas não sabem o que querem, até mostrarmos a elas”. Essa demanda foi criada pelos clubes, após desastrosos anos 80 e 90 com muita violência, perda de audiência, falência de clubes e até banimento de clubes. Com a criação de ligas de alto padrão, com governança e gestão profissional, tornaram o futebol o maior evento do mundo.

Estamos muito atrasados, nossos clubes têm gestão amadora e sem a menor perspectiva de melhora. Vivemos num círculo vicioso. A CBF fatura mais que os maiores times do país. De quem a culpa? Da CBF? Claro que não! A CBF fatura mais que os clubes pois soube ao longo dos anos negociar melhor seu produto: A Seleção Brasileira. Já os clubes, não se organizam para negociar seu produto, não são capazes de se organizar numa liga profissional, tampouco se profissionalizarem para faturarem mais que a CBF, o que ocorre na Europa.

Outro dia participei de um debate onde a rejeição ao Arsène Wenger era total pelos palpiteiros de plantão, que basicamente se empoderam da verdade sem nenhum estudo ou análise mais aprofundada, um dos males da proliferação das redes sociais que ecoa nas palavras de Umberto Eco: “As redes sociais dão voz aos imbecis”.

É obvio que pela ótica da vitória, e somente da vitória, o mundo de Arsène Wenger pode ser considerado frágil, nos últimos anos, já que seu ultimo título é uma FA Cup em 2015 e uma Supercopa da Inglaterra no mesmo ano. Seu ultimo campeonato inglês foi em 2004, sendo que repito, somente um levanta a taça por ano e eficiência dos times lá é muito superior aos times daqui como demonstrado mais a frente. Mas no Brasil não nos preocupamos em entender como uma gestão profissional impacta no resultado de campo, até tem quem diz que não impacta nada. Vamos focar na Premier League para essa análise: Os clubes profissionalizados e com maior orçamento podem até vencer o campeonato, mas devem no mínimo terminar no G4 para que seu investimento seja eficiente. Essa realidade do mundo dos negócios é verdadeira no futebol e o futebol europeu nos últimos 15 anos demonstra isso.

Na Europa usam várias medidas para avaliar o trabalho de um “manager” de futebol ou de um técnico. Uma delas, a talvez mais usada, é quantos milhões de reais se gastou numa temporada para alcançar os pontos no campeonato. O Wenger é fora da curva em vários aspectos. Em 20 anos a frente do Arsenal ele conseguiu algumas façanhas:

Preambulo - Wenger e Arsenal não contaram com maior orçamento em nenhum dos últimos 20 anos, nunca, portanto vencer numa Liga super eficiente, é muito mais difícil, e mesmo assim:

  1. Primeiro técnico não britânico a conquistar a Premier League (1997-98)

  2. Único técnico da Premier League campeão invicto (2003-04), é tricampeão

  3. Tem 7 Copa da Inglaterra, o maior vencedor da história, e 6 Supercopa

  4. Classificou o Arsenal por seguidos 20 anos na Champions League

  5. Top 3 de aproveitamento (vitórias+empates) na Premier League: 82%

Essas conquistas, para um time que oscilou financeiramente entra a 4º e 6º potência da Premier League, são simplesmente fantásticas.

Quando analisamos os grandes times europeus, percebemos que os índices de eficiências são altíssimos, e geralmente atrelados a objetivos que são conquistados por eficiência, por planejamento e por cobrança.

José Mourinho alcançou 85% de aproveitamento somando todas suas passagens pela Premier League, e o Manchester United é um dos times com maior eficiência em termos de Reais por ponto conquistado no mundo. Já Guardiola, com toda sua fama e apesar de não ter vencido a Champions com o Bayern, alcançou na Premier League um aproveitamento de 83% na sua primeira temporada. Esses resultados só colocam mais em evidência os resultados de Wenger por 20 anos seguidos! A eficiência, tanto em aproveitamento como em Reais por ponto conquistado é o que assegura seu emprego e o espetáculo para os torcedores/clientes. Ele está com 69 anos, isso pode mudar.

No Brasil, os melhores técnicos dos pontos corridos, têm aproveitamento entre 52% e 57% (Muricy, Luxemburgo e Levir Culpi). Uma diferença gritante. A falta de planejamento, a falta de saber o que queremos atingir, como atingir e quando atingir, é o que vem destruindo nosso futebol. Essa improvisação culmina na troca dos técnicos, na dança das cadeiras e em elencos super inchados e subaproveitados.

Analisando os orçamentos de futebol de cada clube desde 2003, percebemos que a correlação entre o custo do departamento de futebol e a posição final na tabela é grande na Europa e não passa do acaso no Brasil.

Por exemplo: Na Premier League, os dez clubes com maiores investimentos no futebol ficaram entre os 10 primeiros na tabela final em 2015/16. Mesmo assim, o United com o maior orçamento, terminou em 5º, já o City com segundo maior orçamento terminou em 4º. A maior ineficiência veio do Chelsea que com o terceiro maior orçamento terminou em 10º. Já, Arsenal com o quarto maior orçamento terminou em 2º. Ou seja a ineficiência é a exceção e não a regra como aqui no Brasil. Qual a diferença entre a eficiência deles e a nossa ineficiência? Somente uma coisa, estudo, preparo, gestão e profissionalização. Mas isso nem sempre foi verdade. Os clubes se preparam, contrataram gestores competentes para obter o resultado que têm hoje. Eles hoje competem com os melhores do mundo. Hoje são mais ou menos 14 clubes europeus que estão no topo de mundo. Mas esse número vem crescendo a cada ano. Aposto que esse grupo vai aumentar com a entrada de Milan, Internazionale, Roma, Nice, Olympique Marseille, Schalke04, West Ham e Everton num primeiro momento.

Veja gráfico abaixo para temporada 2015/16:

A linha de eficiência é a linha cheia azul. Abaixo dessa linha azul o time foi melhor que o orçamento e acima o time foi pior que o orçamento. Aceitando um desvio de 3 posições (linha pontilhada) classificamos United e Chelsea como ineficientes ou seja dos 10 times com maior orçamento somente 2 foram ineficientes (20%) mas todos dentro dos 10 primeiros o que é uma segunda medida que alcança 100%.

Quando usamos a mesma métrica para o Brasileirão 2016, observamos que os onze maiores orçamentos, se expandem até a 17º posição com 3 times ficando além das onze primeiras colocações como: Cruzeiro em 12º com o sexto orçamento, Fluminense em 13º com o oitavo orçamento e Internacional em 17º com o nono orçamento. Ainda temos alguns resultados negativos bastante relevantes como o Corinthians e São Paulo que terminaram respectivamente na 7º e 10º posição com o primeiro e segundo orçamento do futebol brasileiro em 2016. Aceitando o mesmo desvio que na Premier League de 3 posições para classificar os ineficientes, são eles: Corinthians, São Paulo, Cruzeiro, Fluminense e Internacional. São 5 de 11 ou 45%. A segunda medida é pior ainda, já que dos 11 maiores orçamentos 3 ficam fora desse intervalo e para piorar o Vasco com maior orçamento da serie B disparado, se classificou em 4º para subir. Ou seja essa segunda medida alcança 67%

Veja gráfico abaixo:

Nos positivos temos o Santos que terminou em 2º com o décimo orçamento e o Botafogo em 5º com o décimo primeiro orçamento. Isso explica claramente a ineficiência dos times brasileiros que apostam mais no acaso, no improviso e não são capazes de fazer o melhor uso do seu orçamento. Sem falar que a cada ano, pelo menos um, considerado grande, cai para a série B. Isso se repete ano após ano quando percebemos que desde o inicio dos pontos corridos em 2003, jamais o time com maior orçamento foi campeão brasileiro e somente, na média a cada ano, 32% dos quatro maiores orçamentos terminaram no G4.

Quando olhamos para a Premier League no mesmo período, o maior orçamento é campeão 43% das vezes contra 0% no Brasil, e os quatro maiores orçamento chegam no G4 na média 79% das vezes contra 32% no Brasil, ou seja a gestão é muito mais eficiente na Europa do que no Brasil.

Se olharmos para os orçamentos de 2017 e usarmos o critério de eficiência para projetar qual seria a classificação final do Brasileirão em 2017 essa seria a tabela final. O principio da eficiência é definido como: conseguir o melhor rendimento com o mínimo de erros. Quem investe com eficiência deve terminar próximo o melhor que sua capacidade de investimento após 38 rodadas. Como vimos somos muito ineficientes com nosso orçamento comparado aos europeus e times da Premier League em particular.

Veja gráfico abaixo:

Vamos ver quem será eficiente.

Eficiência é importante, planejamento e cobrança são importantes, mas não somente pelo título, mas esse é o processo que leva a sustentabilidade ano após ano e nos aproxima mais da taça. O futebol brasileiro não compete no Brasil ou na America do Sul, mas no mundo globalizado. Quem entender isso, e se adaptar, vai se tornar eficiente e obter resultados perenes com muitos títulos. Já, quem se recusar a enxergar essa realidade não vai sobreviver. Nas palavras de Darwin: “Não é o mais forte que sobrevive, nem o mais inteligente, mas o que melhor se adapta às mudanças”.


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